Hurritas


Detalhe da Porta de Istar
Parte da série sobre
Mesopotâmia
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Os hurritas eram um povo da Mesopotâmia, vivendo no extremo norte da região. Habitavam do norte da atual Síria, do litoral do Mar Mediterrâneo e do curso superior do rio Eufrates, passando pela região do rio Cabur (afluente do Eufrates), ao curso superior do rio Tigre e ao sopé dos montes do planalto iraniano ocidental, no sudeste da atual Turquia, e nos planaltos e montanhas das fronteiras dos modernos Irão e Iraque. Eram parentes de outro povo, os urartos, que habitavam a região do lago Arsissa ou Vana, atual lago Van (no leste da atual Turquia) e que falavam uma língua aparentada, o urartiano, a língua do Reino de Urartu (Bianili na sua língua nativa).

O nome que atribuíam a si próprios enquanto povo ou grupo étnico (o auto-etnónimo), era hurri, nome de onde deriva o vocábulo moderno hurrita, sendo Mitani o nome da região e do reino que habitavam. Os assírios denominavam a Terra de Mitani, Hanigalbate, pelo que os dois termos são sinónimos.

Origens

Possivelmente, resultaram da fusão entre dois povos diferentes. Um era um povo nativo da região que habitava a Alta Mesopotâmia há muito tempo e que falava uma língua que não era nem da família linguística indo-europeia nem da semita, tal como o urartiano, mas que era de uma família linguística própria, atualmente denominada hurro-urartiana. Outro era um povo falante de uma língua indo-europeia oriundo da região ocidental do planalto iraniano, talvez no século XVIII ou XVII a.C., mas que, apesar disso, era mais aparentado com os povos falantes do ramo indo-ariano ou índico, do norte da Índia. Estes povos denominavam-se a si próprios haryani ou aryani - arianos (tanto os iranianos como os do norte da Índia). Esse povo indo-europeu migrante conquistou a Alta Mesopotâmia, tornando-se nos governantes desse território e formou grande parte da aristocracia e também de outros grupos sociais da sociedade mitanita ou hurrita. De qualquer modo, influenciaram de maneira importante o vocabulário da língua hurrita com empréstimos indo-europeus, mas, apesar disso, a maioria do vocabulário hurrita não é indo-europeu, tal como a sua estrutura gramatical, pois era uma língua aglutinante e não sintética.

O parentesco das línguas destes povos com outras famílias linguísticas ainda está em debate. É possível que tanto a língua hurrita como a urartiana fossem mais remotamente aparentadas com outras famílias linguísticas, caso da indo-europeia, mas não eram membros diretos desta família linguística. De acordo com alguns linguistas e filólogos a família linguística hurro-urartiana é descendente de uma língua ancestral comum com o proto-indo-europeu pois parece haver cognatos entre as línguas das duas famílias linguísticas e não apenas empréstimos[1]. No entanto, de acordo com outros, é descendente de uma família linguística da vertente norte das montanhas do Cáucaso, a Caucasiana Setentrional ou Nordeste (que tem como membros atuais as línguas faladas pelos chechenos, pelos inguches, pelos lezguinos e por outros povos) em que alguns povos migraram para sul em inícios do II milénio a.C..

É possível que a origem geográfica mais antiga dos hurritas indo-europeus fosse a Ásia Central, nessa época habitada pelos antepassados dos povos iranianos e indianos do norte. Teriam migrado para o ocidente juntamente com os cassitas e estabeleceram-se no Mitani, formando na região um poderoso Estado denominado reino do Mitani. Por isso, os hurritas foram denominados mitanitas pelos historiadores, justamente por terem elevado a região ao destaque político do Sudoeste da Ásia (Médio Oriente) nessa época.

Política e religião

Politicamente, eram organizados numa monarquia em que o mais ilustre dos guerreiros era o rei; estavam divididos em classes de guerreiros denominados Maryas: seus sacerdotes não adoravam os deuses semíticos da Síria-Canaã ou Mesopotâmia — esses foram substituídos pelas imagens de Mitra, o vencedor da luz contra as trevas de Indra, que dominava as tempestades; e de Varuna, condutor do curso eternamente regular do universo.

A esses deuses entoavam um canto denominado mantra. Todos esses nomes têm como origem os indo-europeus da Ásia Central, especificamente do ramo indo-ariano, que migraram e se estabeleceram no norte da índia no II milénio a.C. ou talvez numa época ainda mais antiga, e eram parentes dos povos iranianos do planalto iraniano e da Ásia Central, dos quais descendiam de antepassados comuns. Os hurritas tinham uma política dura de tributos em relação a outras entidades políticas e povos, pois quem não os pagasse era invadido e pilhado, mas tal não diferia da prática de outros reinos e povos e era considerado normal nessa época.

Cultura

Eram criadores entusiastas de cavalos, animais raros e quase desconhecidos entre os semitas; os indo-europeus introduziram o cavalo entre os semitas principalmente como arma de ataque durante seus constantes ataques à terra de Sinear e durante suas invasões. De acordo com relatos, esses animais seriam mais apreciados entres os hurritas do que o próprio homem. O cronista Quiculi chegou a escrever uma obra sobre a arte de criar estes animais, não deixando a desejar às técnicas de criações atuais. Chegavam até mesmo a treiná-los para não relincharem durante os combates, pois poderiam denunciar as tropas numa emboscada. Os hurritas também introduziram o carro de combate mais adaptado para a guerra, possivelmente copiado pelos hititas mais tarde e empregados como arma à frente da infantaria.

Música Hurrita

Desenho de parte do tablete onde se encontra gravado o hino hurrita a Nical

Como muitos outros povos da Mesopotâmia, os hurritas de Mitani usavam a escrita cuneiforme para grafar sua correspondência, textos literários, hinos, etc. Um tablete cuneiforme do século XIII a.C., encontrado no reino Sírio de Ugarite, traz o que é possivelmente a composição musical mais antiga registrada pela história, junto do epitáfio grego de Sícilo, embora não sendo precisamente completa (trechos curtos do hino estão faltando). O hino, conhecido como hino a Nical, foi reproduzido segundo as instruções do tablete cuneiforme por músicos contemporâneos e pode ser escutado no site[2].

História

Acompanhando os cassitas e hititas na sua invasão à Mesopotâmia, os hurritas conquistam a região conhecida como Mitani no extremo norte da Mesopotâmia estabelecendo lá a sede de seu reino na cidade de Nuzi, mais tarde, a cidade de Uassucani, foi a capital do Reino de Mitani. Conquistam a Assíria que fora atacada 75 anos antes pelos cassitas e estava debilitada, unindo-a ao seu nascente império. Os hurritas passaram a expandir-se no norte da Mesopotâmia, aproveitando o facto dos cassitas não estarem interessados pela região, e sim na Acádia e na Suméria, ou seja, pelo sul da Mesopotâmia.

O rei hitita Mursilis, por sua vez, não pôde manter o domínio sobre a Babilônia, cidade rica e populosa, ficando esta a 1 200 quilômetros de Hatusa, o seu centro de poder.

Extinção

Os hurritas, a partir dos séculos XIV e XIII a.C., começaram a ser conquistados e absorvidos pelos hititas a noroeste e pelos assírios a sudeste, e a sua língua extinguiu-se talvez no século XIII a.C. (ou então alguns séculos mais tarde em regiões mais isoladas), sob pressão de outras línguas e povos. Por volta de 1 200 a.C., a língua hurrita havia desaparecido dos registros cuneiformes. Há alguns autores que referem a possibilidade de tanto o povo como a língua hurrita serem um dos substratos étnicos, linguísticos e culturais do moderno povo curdo, pois habitavam territórios onde atualmente vivem os curdos (um povo descendente de um grupo ocidental dos medos que migrou para oeste, para a cordilheira dos Montes Zagros).

A língua urartiana, parente da hurrita, foi falada até ao século VII a.C., nas regiões do alto Eufrates e do Lago Vã.

Referências

  1. «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 30 de janeiro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 5 de março de 2012 
  2. http://128.97.6.202/urkeshpublic/music.htm
  • https://web.archive.org/web/20120305113250/http://www.nostratic.ru/books/(432)bomhard-hurrian.pdf
  • http://books.google.com.br/books?id=agi4O1c3UhQC&pg=PA3&dq=hurrians&hl=pt-BR&ei=8x6tTb69EYPfgQfrn9iNDA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CDIQ6AEwAg#v=onepage&q&f=false
  • http://books.google.com.br/books?id=ro3rAAAAMAAJ&q=civilizations+of+the+ancient+near+east+volume+2&dq=civilizations+of+the+ancient+near+east+volume+2&hl=pt-BR&ei=Px-tTbrYA5LrgQfStdH3Cw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CC8Q6AEwAQ
  • http://128.97.6.202/urkeshpublic/music.htm

Bibliografia

  • AAVV. (1977). "Hurrians" in The New Encyclopedia Britannica, in 30 volumes. Chicago, London, Toronto, Geneva, Sydney, Tokyo, Manila, Seoul: Encyclopedia Britannica, Inc. ISBN 0-85229-315-1
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Síria Mesopotâmia setentrional Mesopotâmia meridional
c.3 500–2 350 a.C. Martu Subartu Cidades-estado sumérias
c.2 350−2 200 a.C. Império Acádio
c.2 200−2 100 a.C. Gútios
c.2 100−2 000 a.C. Terceira dinastia de Ur (Renascimento sumério)
c.2 000−1 800 a.C. Mari e outras cidades-estado amoritas Período assírio antigo (Acádios do Norte) Isim, Larsa e outras cidades-estado amoritas
c.1 800−1 600 a.C. Antigo Reino Hitita Império Paleobabilônico (Acádios do Sul)
c.1 600−1 400 a.C. Mitani (Hurritas) Cardunias (Cassitas)
c.1 400−1 200 a.C. Império Hitita Médio Império Assírio
c.1 200−1 150 a.C. Colapso da Idade do Bronze ("Povos do Mar") Arameus
c.1 150−911 a.C. Fenícia Estados sírio-hititas Arã-
Damasco
Arameus Médio Império Babilônico (II dinastia de Isim) Cal-
deus
911–729 a.C. Império Neoassírio
729–609 a.C.
626–539 a.C. Império Neobabilônico (Caldeus)
539–331 a.C. Império Aquemênida (Persas)
336–301 a.C. Macedônia (Gregos e Macedônios)
311–129 a.C. Império Selêucida
129–63 a.C. Império Parta
63 a.C.–243 d. C. Império Romano/Império Bizantino (Síria)
243–636 d. C. Império Sassânida